Uma simples palavra pode influenciar o comportamento? Será que ao ler determinadas palavras nossas decisões são alteradas?
Nós não estamos preparados para perceber, mas o fato é que uma palavra pode influenciar o comportamento e alterar as nossas decisões. O processo não é consciente e portanto foge ao controle do córtex frontal.
Para demonstrar isso, Loftus e Palmer (1974) fizeram um teste simples com 45 estudantes da Universidade de Washington (EUA). Eles assistiam a um filme de um acidente de automóvel.
Depois, em grupos distintos, foram questionados sobre a velocidade em que os carros estavam.
Para cada grupo, foi alterado apenas o verbo utilizado. Assim:
Em qual velocidade você diria que os carros estavam andando quando…
1- arrebentaram um ao outro?
2- colidiram um com o outro?
3- atingiram um ao outro?
4- entraram em contato um com outro?
O resultado foi que as pessoas do grupo 1 apontaram uma velocidade 16 km/h maior do que o grupo que a palavra contato. É uma diferença suficiente para configurar uma conduta criminosa no trânsito.
Em outro estudo, a alteração do nome de um mesmo jogo provocou comportamentos diferentes nos participantes.
V. Liberman et al (2004) colocou diversos participantes diante de um mesmo jogo, alterando apenas o nome da brincadeira.
Ao chamá-lo de Jogo de Wall Street, as pessoas adotaram um comportamento menos colaborativo do que quando o mesmo jogo fora chamado de Comunitário.
Noutro estudo, antes de participar de um jogo, o simples fato de ler palavras relacionadas a determinado valores, como “harmonia”, “justo”, “ajuda” ou “feroz”, “poder” e “hierarquia”, alterou o comportamento do jogador conforme a remissão moral das palavras.
O estudo mostrou claramente que uma palavra pode influenciar o comportamento. E ele muda porque as palavras pré-ativam redes neurais conectadas a comportamentos “preparados” para reagir a estímulos do meio ambiente.
Tudo aquilo que lemos e ouvimos fica impregnado na memória de trabalho e dirige os pensamentos de modo inconsciente.
No curto prazo, determina as decisões que tomamos (Lieberman et al, 2004). E, a longo prazo, a repetição de decisões similares formam um hábito que passara a ser o padrão de resposta de comportamento.
Este conhecimento nos traz a importância de selecionarmos adequadamente o tipo de conteúdo de entretenimento que consumimos e que incentivamos nossos filhos a consumir, assim como um modo de influenciar o modelo de decisão a partir da ativação de redes neurais com frases, verbos ou palavras bem selecionadas e postas para a leitura ocasional.
São ações simples que, agregadas, trazem benefícios consideráveis para o desenvolvimento de uma melhor inteligência de decisões corriqueiras e, consequentemente, satisfação pessoal.
Referências:
Liberman, Varda & Samuels, Steven & Ross, Lee. (2004). The Name of the Game: Predictive Power of Reputations versus Situational Labels in Determining Prisoner’s Dilemma Game Moves. Personality & social psychology bulletin. 30. 1175-85. 10.1177/0146167204264004.