O jogador de futebol profissional Lionel Messi pode ser considerado como um dos melhores cobradores de pênaltis de todo o mundo, além de ser um excelente jogador. Ao avaliar as estatísticas, observou-se que ele errou apenas 22% das cobranças que executou. E para descobrir o que leva jogadores a errar cobranças, pesquisadores da Universidade de Twente, nos Países Baixos, realizaram um estudo sobre o funcionamento do cérebro entre jogadores de futebol no momento em que cobravam pênaltis. Os achados da pesquisa indicam que o treinamento do cérebro pode melhorar a performance.
Os pesquisadores avaliaram o funcionamento do encéfalo de 22 jogadores. Deles, metade era formada por jogadores experientes e a outra metade por jogadores com pouca ou nenhuma experiência em fazer a cobrança.
No gol, os pesquisadores também revezaram a atitude do goleiro diante do jogador. Em determinados casos, o goleiro executava pressão mental sobre o batedor; em outros, apenas tentava realizar a defesa.
Para aferir o funcionamento do cérebro, os pesquisadores utilizaram uma técnica de imagem indireta, chamada Espectrografia Funcional de Infravermelho Próximo (fNIRS – em inglês). “Este método mede os níveis de oxigênio no cérebro. Quando os níveis de oxigênio são mais altos, podemos assumir que a área cerebral está mais ativada. Essa medida é mais resistente e mais consistente em relação ao movimento”, disse Max Slutter, principal autor do estudo.
Para aumentar a pressão, os pesquisadores recompensavam com dinheiro as cobranças que resultavam em gols e fazia com que os batedores levassem a bola do meio do campo até a marca do pênalti.
Sob pressão, os batedores acionaram áreas relevantes do cérebro, como o córtex motor – o que seria esperado já que a região é importante para o controle da atividade.
Entretanto, os que erraram a cobrança tiveram o córtex pré-frontal bastante acionado. Esta região do cérebro é acionada em tarefas que engloba tomadas de decisão, atenção, controle de probabilidades e interferências.
Para os pesquisadores, ao avaliar a circunstância, os batedores perderam o foco do movimento considerado ideal para a execução de um chute correto. A atividade cerebral ficou dividida entre os estímulos do córtex motor e a do córtex pré-frontal, resultando em aumento de ansiedade no momento da cobrança.
Os pesquisadores ressaltam que mais estudos precisam ser realizados para compreender todas as variáveis que interferem no desempenho de atletas, mas avaliam que os resultados da pesquisa revelam a possibilidade de treinamento mental para melhorar a habilidade e desempenho dos jogadores.
Para Jason Pascoal, especialista em Neurociência e Comportamento, a pesquisa corrobora outros achados científicos que mostram os efeitos da ansiedade sobre o desempenho de atividades que requeiram habilidade motora. “Muitas vezes, o desempenho da criança fica abaixo de sua capacidade porque a ansiedade estressa as regiões responsáveis pela coordenação motora e a criança acaba vivenciando uma frustração maior, que pode gerar impactos significativos em sua autoestima e personalidade. É preciso fazer com que a criança compreenda o que é a ansiedade e como ela pode lidar com isso”, explicou.
Este tema é, inclusive, abordado em dois dos nossos livros – De Perna de Pau a Perna de Craque e o Nadador Veloz. Nele, explicamos os efeitos positivos de um treinamento já comprovado em diversas pesquisas: o treinamento visual que pode resultar em melhoria de habilidade motora e o processo de controle da ansiedade – um dos principais ruídos comprometedores do desempenho motor.
As obras também incentivam a atividade física, , nos dias atuais, considerada elemento essencial para o desenvolvimento do cérebro, sendo inclusive apontada como essencial para o desempenho cognitivo, além de redução de processos inflamatórios e aumento de resistência imunológica, entre outros efeitos positivos.
Outras referências:
Michael W. Eysenck & Manuel G. Calvo (1992) Anxiety and Performance: The Processing Efficiency Theory, Cognition and Emotion, 6:6, 409-434, DOI: 10.1080/02699939208409696
Hardy, L. and Parfitt, G. (1991), A catastrophe model of anxiety and performance. British Journal of Psychology, 82: 163-178. https://doi.org/10.1111/j.2044-8295.1991.tb02391.x
Raglin, J. S., & Hanin, Y. L. (2000). Competitive anxiety. In Y. L. Hanin (Ed.), Emotions in sport (p. 93–111). Human Kinetics.
Lew Hardy, Stress, anxiety and performance, Journal of Science and Medicine in Sport, Volume 2, Issue 3, 1999, Pages 227-233,
https://doi.org/10.1016/S1440-2440(99)80175-3
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